O confinamento para combater a expansão do Covid-19 revela o que pesquisas oficiais denunciam há quase 30 anos. A casa para milhares de mulheres é lugar de risco e sofrimento. Para essas mulheres, ficar em casa significa isolar-se com o próprio agressor. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano passado, 1,6 milhão […]
O confinamento para combater a expansão do Covid-19 revela o que pesquisas oficiais denunciam há quase 30 anos. A casa para milhares de mulheres é lugar de risco e sofrimento. Para essas mulheres, ficar em casa significa isolar-se com o próprio agressor.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano passado, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas, 22 milhões sofreram algum tipo de assédio, uma mulher é estuprada a cada nove minutos e três são vítimas de feminicídio a cada 24 horas. Informações das polícias militares estão mostrando que durante a pandemia esses crimes crescem cruelmente. O mais angustiante é que o crescimento da violência doméstica durante a pandemia atinge as mulheres de boa parte do mundo.
O fechamento de creches, escolas e as dificuldades para manter as redes de amparo sobrecarregam muito mais as mulheres. A pandemia também redobra os cuidados com a saúde da família, adicionando mais peso nos ombros das mulheres. Além disso, como não existe equilíbrio na divisão das tarefas domésticas, a jornada de trabalho das mulheres tem se estendido insuportavelmente.
Além da violência doméstica, as mulheres são discriminadas por ocuparem postos de trabalho mais frágeis, precários e com menor rendimento. Com a pandemia, esses vínculos são rompidos e as mulheres estão sendo jogadas mais rapidamente no desemprego. A perda da renda acaba sendo uma fonte de conflitos, que facilmente se transformam em violência.
O fato é que o medo do contágio, a violência em ambiente de isolamento social e o machismo estrutural da sociedade brasileira transformam a vida das mulheres em uma verdadeira via crucis.
É preciso mais investimentos em políticas públicas específicas, que socorram as mulheres mais vulneráveis, campanhas educativas, diversificação dos canais de denúncia, celeridade judicial e publicização dos dados de violência. Temos também que fortalecer os laços de solidariedade, acolhida e escuta entre nós, mulheres. A sociedade não pode ser cúmplice com aqueles que utilizam as máscaras da pandemia para esconder seus crimes e sua covardia.
Vitalina Gonçalves é professora e secretária-geral da CUT-RS