Grito dos Excluídos completa 30 anos com caminhada por áreas afetadas pela enchente

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Com o lema “Todas as formas de vida importam. Mas, quem se importa?” nem mesmo a chuva impediu que centenas de pessoas participassem da 30ª edição do Grito dos Excluídos em Porto Alegre, na manhã deste sábado (7). Com uma caminhada que percorreu as áreas mais afetadas pelas enchentes na zona norte da capital, o Dia da Independência do Brasil foi marcado pela união entre movimentos sociais e muita luta do povo unido.

A caminhada começou às 8h30 na Praça dos Navegantes, com concentração na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes. Logo após a caminhada: Praça dos Navegantes, Av. Sertório, pela Rua dos Voluntários passando na frente da Cooperativa de Reciclagem das Anitas, Rua São Jorge, Rua Frederico Mentz, e por fim a Praça do Sesi, com a distribuição de marmitas feitas pela Cozinha Solidária do MST.

 

 

A CUT-RS esteve presente no Grito dos Excluídos, confira a fala do presidente da Central, Amarildo Cenci. “são 30 anos sempre na luta pela defesa da vida, particularmente esse ano, discutindo a questão do alimento saudável para todos, da moradia, da saúde e da renda do nosso povo.”. Amarildo também destaca o valor simbólico de fazer a caminhada na entrada da cidade, uma região marginalizada e duramente lesada pela enchente.

 

30 anos de luta: caminhada pelos rastro da enchente
O Grito nasceu no Brasil a partir da atuação das pastorais sociais ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e se firmou como um espaço de denúncia das desigualdades sociais. O evento começa a ser organizado com um mês de antecedência, os coordenadores observam a cidade para entender que lutas são as principais. A pauta principal é nacional, mas sempre são acolhidos o grito daqueles que precisam. Neste ano, as enchentes de maio, os galpões de reciclagem da cidade e as cozinhas comunitárias foram os protagonistas do ato.

O padre Edson Thomassim, mais conhecido como padre Edinho, membro da Pastoral Carcerária e articulador regional das Pastorais Sociais do Rio Grande do Sul pela CNBB, destaca que essa celebração nacional dos 30 anos traz a escolha de fazer outros gritos para além do grito do Ipiranga. “Trocar o grito que foi de um príncipe, de um monarca da elites, para os gritos daqueles que não estão visualizados na realidade.” explicou padre Edinho.

 

Galpões de reciclagem afetados
O Grito dos Excluídos trouxe atenção para a realidade dos galpões de reciclagem da cidade, também fortemente atingidos pela enchente. Nesta área estão mais da metade destes galpões da capital. E todos foram atingidos.

 

 

A presença dos galpões de reciclagem também é uma forma de resistência da região, destaca um dos organizadores do Grito dos Excluídos, o Bispo da Diocese Meridional IEAB Humberto Maiztegui Gonçalves. “Os bairros Humaitá e Sarandi são um dos bairros em Porto Alegre mais atingidos, não só pela questão climática mas também pela negligência do prefeito Melo. Há um projeto indireto de remover as pessoas dessa região e transformar num lugar de empreendimentos financeiros, Aqui ainda é um local de resistência pela presença dos galpões de reciclagem.” afirmou o Bispo Humberto.

Para Lúcia da Rosa, carinhosamente conhecida como Tia Lúcia, presidenta da Associação de Reciclagem e da Cozinha Solidária Força e Coragem, ser catadora é motivo de orgulho. “Estar aqui hoje não é um sacrifício, eu acompanho aqui (Grito) há anos. É uma luta que eu tenho, que é pra vencer. Sou catadora com muito orgulho e não sou excluída, pois sei lutar pelo que eu quero. Nós temos que botar a cara pra rua e dizer, somos recicladores e não somos excluídos de nada.” Tia Lúcia afirma com orgulho.

Além do trabalho como catadora, Tia Lúcia comanda uma cozinha solidária no Bairro Mário Quintana, que faz parte do Projeto CUT Comunidade. Na caminhada deste sábado também estiveram presentes algumas das cozinhas comunitárias lideradas por movimentos sociais.

 

 

União de movimentos sociais, sindicatos e pastoral social

Além da CUT-RS, o Cpers, o MST, o MNLM, o Movimento Levante da Juventude, o Movimento Laudato Si, a CNBB, estiveram unidos criando esse momento de luta e união.

A presença da juventude na organização também. A coordenadora do Levante Popular da Juventude no RS, Mariana Dambroz, que participou da organização do Grito deste ano, destaca a importância da construção de um espaço de resistência no dia 7 de Setembro. “É muito importante a gente construir o Grito dos Excluídos e afirmar que o Brasil que a gente quer é soberano, ele é popular e ele é construído pela classe trabalhadora junto aos movimentos sociais que hoje estiveram aqui lado a lado.” afirma Mariana.

 

Período eleitoral e o futuro de Porto Alegre
A 30ª edição do Grito dos Excluídos acontece em um momento histórico, após uma enchente que devastou Porto Alegre e cujas marcas ainda estão presentes. Tanto na memória dos afetados, mas também de forma literal com a marca da altura da água nos muros e fachadas. Além disso, o período eleitoral também acirra ainda mais a importância do Grito e do voto consciente.

 

 

Para o coordenador do Grito dos Excluídos no RS, Valdir B., as enchentes mostraram a vulnerabilidade da gestão pública diante de uma catástrofe que afetou a população de forma desigual. “No sistema econômico vigente hoje, o capitalismo, tudo é visto como algo a apropriação de exploração, tudo é visto como um algo que pode ser transformado em alguma fonte de dinheiro e essa lógica vai nos levar para o Abismo.” destaca Valdir.

“Aqui em Porto Alegre, estamos em período eleitoral, temos visto que o poder público tem um descaso muito grande com as políticas públicas em geral, o extremo climático acontecendo foi um deus nos acuda, felizmente o povo mostrou uma solidariedade. Vai ser o povo se organizando, elegendo os representantes realmente comprometidos com a defesa da vida.” acrescentou o coordenador.

A Liderança de bairro e moradora da Vila Farrapos, Lidiane Alves Machado, fez uma fala durante a caminhada. Também afetada pela enchente, Lidiane destaca a negligência do prefeito Melo com os moradores da região norte da cidade que perderam tudo na enchente.

“Eu nasci e me criei na Vila Farrapos e a gente vem sofrendo há anos. A gente precisa de moradia digna, e a gestão atual nada faz. A gente passou por um momento dificil onde todos nós da comunidade fomos afetados.” diz Lidiane.

 

Agradecimento às cozinhas solidárias.

O ato de encerramento foi realizado na última parada da caminhada, na Praça do Sesi, onde uma grande roda reuniu todos os presentes.  O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, parabenizou o trabalho feito pela cozinha comunitária da Tia Lucia, a Cozinha Solidária Força e Coragem. Para o sindicalista, a articulação das cozinhas comunitárias, mas acima de tudo a articulação popular são essenciais para a sociedade, assim como o Grito dos Excluídos. “Nós temos que sair daqui com o compromisso, engajamento, para que o próximo Grito seja bem maior, bem melhor, faça chuva, faça sol, porque nós precisamos, com esse compromisso, não deixar as ruas, não abandonar as pessoas que precisam,” pontuou Amarildo durante fala final na Praça.

Mariana Dambroz, coordenadora do Levante Popular da Juventude no RS, homenageou o trabalho das cozinhas solidárias da Região Metropolitana de Porto Alegre. “As cozinhas solidárias foram construídas pela CUT na Comunidade, pelo MST, pelo Levante Popular da Juventude pela Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), pelas diversas organizações que estão aqui hoje”.

 

Perdão à mãe Terra

O grito dos povos originários também esteve presente no 30º Grito dos Excluídos. A Cacica Iracema Gah Té Nascimento pediu licença e perdão à mãe terra por ainda a machucarmos. “Pedi perdão à terra por todos nós. Eu peço a vocês que segurem a mão de quem está ao lado, olhem pra quem está do lado e digam: eu te amo hoje e pra toda vida.”

O Grito dos Excluídos é uma mobilização que reúne movimentos populares, organizações sociais e entidades sindicais, entre elas a CUT, com o objetivo de dar voz às pautas de segmentos minorizados da sociedade como a população negra, os indígenas, mulheres, LGBTQIA+, população em situação de rua, movimentos que lutam por moradia digna entre vários outros.

 

Fonte: CUT-RS

Fotos: CUT-RS