A abertura oficial do Novembro Antirracista Unificado 2023 ocorreu na segunda-feira (6), em Porto Alegre, e marcou o início das atividades do Mês da Consciência Negra no Rio Grande do Sul, com muita arte, cultura e manifestações.
A cerimônia ocorreu no coração do Mercado Público, tombado como patrimônio histórico-cultural da capital gaúcha pela Câmara de Vereadores, em dezembro de 2020.
A exemplo do ano passado, teve saudação ao Bará do Mercado, no mosaico de pedras e bronze, na encruzilhada dos quatro corredores centrais do local, ornamentado com sete chaves. Foi uma homenagem ao Bará, o orixá que para as religiões de matriz africana tem o poder de abrir caminho.
Para a secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS, Isis Garcia, “é fundamental reverenciarmos a nossa ancestralidade, através do orixá que está sentado aqui no Mercado Público. Nós estamos aqui para defendê-lo e também defender a nossa identidade para dizer que a população negra, praticante de axé ou não, respeita esse lugar”.
“Nós fazemos parte da história do Mercado Público e da cidade de Porto Alegre. Vamos iniciar esse o Novembro Negro com muita fé, muita alegria, muita união e com muita reivindicação. Nós ainda somos negligenciados pelo sistema”, denunciou Isis.
O integrante do Coletivo de Igualdade Racial do Sindicato do Servidores da Justiça (Sindjus) e membro da coordenação do Novembro Negro Unificado, Luiz Mendes, salientou que “estamos construindo atividades em todo o estado, com um calendário unificado, onde o movimento negro e o movimento sindical se reuniram para fazer que esse novembro seja maravilhoso”.
“Essa cerimônia de abertura, é uma homenagem ao Bará do Mercado, porque ele, na nossa religião de matriz africana, é aquele que abre os caminhos. Então nós vamos abrindo o novembro negro unificado, com uma grande homenagem ao Bará”, explicou Mendes.
Novembro de combate ao racismo estrutural
A presidenta da União de Negros e Negras pela Igualdade no Rio Grande do Sul, Elis Regina destacou que “hoje mais uma vez estamos aqui neste lugar simbólico, que é o Mercado Público, onde para nós tudo começa, aonde nós chegamos, onde nós sofremos e que um Bará que nos deu força para chegar onde chegamos. E é muito importante o simbolismo de tudo isso, de começar aqui onde tudo começou, porque a gente tem trabalhado muito a nossa ancestralidade”.
Foto: Jorge Leão / Brasil de Fato RS
“Os povos tradicionais de matriz africana são mais do que uma religião, eles são uma tradição. É a forma de se alimentar que representa o Mercado Público, é a forma de viver que representa o Mercado Público”, frisou Elis Regina.
Ela chamou a importância para a política, destacando a política de Estado e não de governo. “Essa política que foi construída para usar os seres humanos, como se eles fossem animais e nisso construir grandes riquezas que não são divididas, e que hoje a gente vê a luta do nosso povo negro no Brasil inteiro para vencer a violência, para não ser marcado na paleta para morrer, para ter acesso. O que a gente vem buscar aqui é realmente política pública inclusiva, é respeito, é amor”, ressaltou.
Elis Regina criticou também a desigualdade que sofre o povo negro na sociedade. “Enquanto um come caviar e 10 mil comem papelão, o Brasil não será um país desenvolvido e democrático de verdade. A gente quer ver o nosso povo se alimentando bem, sem agrotóxico. Os orixás têm mostrado a força deles e a retomada do território. É isso que nós discutimos também, o racismo ambiental, porque são as comunidades que não têm água potável, que não têm esgoto ou é de qualquer jeito, é a comunidade que adoece. E os orixás têm mostrado, precisamos acordar para essas coisas.”
O presidente do Conselho Estadual do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul e coordenador da Rede Nacional de Religião Afro-Brasileira e Saúde, Baba Diba de Iyemonjá, enfatizou que “a abertura do Mês da Consciência Negra é o início das articulações da Marcha Zumbi e Dandara, que é tão importante para o nosso Brasil”.
Para ele, é preciso “pautar políticas públicas para o nosso povo preto, mas também buscar estratégia de combate a esse racismo que cada dia cresce mais, tanto o racismo estrutural e estruturante quanto o racismo religioso”.
Fonte: CUT-RS com informações do Brasil de Fato RS
Fotos: Matheus Piccini (CUT-RS)