Diretoria do Sindiserf/RS fortaleceu a Marcha e intensificou a luta das mulheres negras
Mulheres negras de Porto Alegre protagonizaram uma marcha histórica neste Julho das Pretas, reafirmando a luta por reparação, bem viver e o fim da exploração, na noite de sexta-feira (25). A concentração ocorreu no Gigantinho, com caminhada até a Escola de Samba Imperadores do Samba e reuniu movimentos sociais, coletivos, sindicatos e lideranças de diversas regiões do estado. O Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos Federais do RS (Sindiserf/RS) foi uma das entidades que integraram a coordenação da atividade junto com demais entidades, coletivos e movimentos do Rio Grande do Sul.
O ato integra o calendário do Julho das Pretas, mês de luta que marca o 25 de julho como Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e também o Dia Nacional e Estadual de Tereza de Benguela, símbolo da resistência quilombola. A marcha unificada ecoou vozes que denunciam o racismo estrutural, o machismo e a invisibilidade que ainda marcam a sociedade brasileira, especialmente no Rio Grande do Sul.
“Nossa luta é para dar voz à todas as mulheres negras, por mais dignidade e investimentos públicos contra todo o tipo de violência”, declarou a secretária de Movimentos Sociais, Gênero e Etnias do Sindiserf/RS, Vera Regina Gomes da Rosa ao destacar que são as mulheres negras e periféricas as principais vítimas de violência doméstica e de feminicídio.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados na quinta (24), véspera do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que apontam que 63,6% das vítimas de feminicídio em 2024 eram mulheres negras.
“O protagonismo histórico dessas mulheres tem um papel muito importante e contribuem com a construção de uma nova estrutura social, com liberdade, igualdade, oportunidades e reconhecimento de direitos. Por isso, marchamos por justiça social, igualdade e pela soberania do nosso país. Nossa luta é por soberania e bem viver”, defendeu Vera.
Além dela, a secretária de Aposentados e Pensionistas do Sindicato, Eva Lourdes Silva Corrêa e a secretária adjunta de Movimentos Sociais, Gênero e Etnias do Sindiserf/RS, Valéria da Silva Amaral também compareceram na marcha.
Em diversas falas, além da violência estrutural, as manifestantes destacaram que a realidade das mulheres negras se manifesta na precarização do trabalho. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 4º trimestre de 2023, mulheres negras representavam 41% das trabalhadoras informais, frente a 31% entre as não negras. Das trabalhadoras domésticas, 91% são mulheres, sendo 67% negras.
E de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2024, do Ministério do Trabalho, mulheres negras têm o dobro da taxa de desemprego em comparação a homens não negros (10,1% contra 4,6%).
A secretária de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Isis Rodrigues Garcia, associou o modelo 6×1 à lógica escravocrata e defendeu o fim dessa jornada, que é ainda mais cruel para as mulheres negras. “Trabalhar sem tempo para a família, com folga decidida pelo patrão, é como estar nas senzalas.”
Ela também alertou para a precarização da terceirização na limpeza, setor ocupado majoritariamente por mulheres negras: “Boletos chegam igual. Isso é empobrecimento, isso é racismo estrutural.” De 1.812 mulheres resgatadas de trabalho escravo no Brasil entre 2003 e 2024, 1.190, 66% eram negras, ou seja 1.190, segundo o projeto Perfil Resgatado, do Repórter Brasil.
Além das falas dos movimentos sociais e entidades, a marcha teve palavras de ordem como “Dandara vive, Dandara viverá”, lembrando a guerreira negra do Quilombo de Palmares. A manifestação ainda teve exposição de empreendedoras negras e manifestações artísticas. Pelotas, no sul do estado, realizou uma marcha na tarde de sábado (26).
A marcha estadual também preparou o caminho para a Marcha Nacional de Mulheres Negras, marcada para 25 de novembro, em Brasília, 10 anos após a primeira edição.
Fonte: Sindiserf/RS com informações do Brasil de Fato RS
Fotos: Renata Machado (Sindiserf/RS)