Há 20 anos, o Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos Federais do RS (Sindiserf/RS) dava um passo importante na luta antirracista. Na noite de 14 de maio de 2005, a “Festa do Dia Seguinte” realizada no Partenon Tênis Clube marcava o lançamento do Coletivo de Negras e Negros do Sindiserf/RS (Conesindiserf/RS), com um jantar de temática africana. A celebração do lançamento foi em contraponto ao 13 de maio de 1888, data da falsa Abolição da Escravatura no Brasil.
A criação do Coletivo se deu a partir da deliberação do VIII Congresso da Condsef, realizado nos dias 8, 9 e 10 de dezembro de 2004, em Belo Horizonte/MG, que tirou teve como um dos principais encaminhamentos a criação do Coletivo de Negros da Confederação, ficando a cargo dos sindicatos a criação dos Coletivos Estaduais. Pioneiro, o Sindserf/RS foi uma das primeiras entidades no Estado a refletir e propor ações para uma sociedade livre de racismo.
“Naquela oportunidade, observamos um número considerável de afrodescendentes no Serviço Público e sentimos a necessidade de uma reunião para avaliar a representatividade negra dentro da administração pública nos diversos segmentos”, conta a servidora aposentada da Polícia Rodoviária Federal, Ana Maria da Silveira, que na época integrava a direção do Sindicato.
De acordo com ela, a reunião foi realizada entre negros, negras e brancos parceiros, num espaço chamado “porão”, em um momento posterior às atividades do Congresso. “Entre as reflexões, constatamos que, em uma disputa com avaliação de nossa capacidade intelectual, concorremos de igual para igual, nos qualificamos sempre pelo nosso conhecimento e a cor da pele não impossibilita uma vaga neste e em qualquer mercado de trabalho.”
“Vivemos num país onde impera o racismo estrutural e hoje, 20 anos após a sua estruturação, o Conesindiserf presta um serviço de excelência para a sociedade em geral no que tange a pauta racial”, acredita Ana.
Desafios
O servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Joelsio Luiz Barbosa dos Santos, declara que o Coletivo nasceu como uma fonte de resistência que precisava fortalecer as suas ações não só no serviço público, mas nas demais ações da sociedade. “O Conesindiserf/RS surgiu como uma ideia forte, porém ao longo desses anos, nem sempre conseguiu se manter atuante, tanto que foi reativado no último Congresso do Sindicato, em 2023 e isso precisa ser mantido”, ressalta.
Segundo ele, coletivos como esse dentro das entidades sociais e sindicais precisam estar inseridos nos debates e conquistas. “Além de ações coerentes, buscar alianças com outras entidades e coletivos. As pessoas precisam ser convencidas a ter atitudes antirracistas e não só pensar que não são racistas”, defende.
Para a secretária de Movimentos Sociais, Gênero e Etnias do Sindicato, Vera Regina Gomes da Rosa, o Coletivo é um instrumento fundamental para promover o diálogo e a conscientização, agindo contra o racismo em todas as suas formas, seja institucional, individual ou estrutural, promovendo a inclusão e a diversidade.
Passado, presente e futuro
A dirigente destaca que a história do Coletivo foi feita por muitas mãos. “Com homens e mulheres que caminharam e participaram da construção de eventos importantes ao longo dessas décadas. Nosso respeito e gratidão aos companheiras e companheiros que fazem parte da historicidade desse coletivo, que trabalharam e trabalham ativamente nas manifestações e atividades do movimento sindical e social”, declara.
Vera cita a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras 2025 – Por Reparação e Bem Viver, que será realizada em 25 de novembro, em Brasília, como mais um evento que entrará para a história do Coletivo. “Será mais um momento importante que o Conesindiserf/RS participa da construção e que, além da mobilização, dará visibilidade para as pautas em defesa dos direitos das mulheres negras. Por igualdade salarial, dignidade e reparação histórica, estaremos como coletivo, novamente juntas nessa Marcha.”
Biblioteca Luiz Carlos Martins
Um dos marcos dessas duas décadas, foi a criação de um espaço de reflexão e crítica no movimento sindical, a biblioteca Luiz Carlos Martins do Conesindiserf/RS. Inaugurado no dia 23 de outubro de 2007, o local está aberto aos associados do Sindicato.
A secretária adjunta de Movimentos Sociais, Gênero e Etnias do Sindicato, Valéria da Silva Amaral conta que a biblioteca foi mantida, durante todos esses anos com doações e que ao longo do tempo, boa parte das obras que não eram de interesse ao objetivo. “Por isso, ao longo de 2024 e com a mudança para a sede própria do Sindiserf/RS, investimos na reformulação da biblioteca Luiz Carlos Martins, que por ser uma iniciativa do Conesindiserf/RS entendemos que deve propiciar a reflexão e o debate de temas que interessam ao Sindicato e aos servidores”, declara ela.
Atualmente, os livros que compõem a biblioteca abordam assuntos como negritude, masculinidade, feminismo, história, comunicação e sindicalismo.
Fonte: Sindiserf/RS
Fotos: Arquivo Sindiserf/RS