A servidora do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Eleandra Raquel da Silva Koch foi a primeira mulher a assumir o comando do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos Federais do Rio Grande do Sul (Sindiserf/RS), na gestão de 2021-2024. Em janeiro de 2021 ela afirmou que “era uma honra representar as mulheres e as trajetórias de inúmeras companheiras que construíram o Sindiserf” e também prometeu “um sindicato que continuará atuante na defesa do serviço público, contra a privatização do mesmo, em defesa da valorização das nossas carreiras.”
Hoje, no final do mandato, Eleandra garante que o sentimento é de dever cumprido. Os últimos três anos foram intensos e se destacam pela compra o sede própria, a realização do V Congresso Estadual e a comemoração dos 35 anos. Além disso, o Sindiserf implementou parcerias, combateu os assédios no local de trabalho, fortaleceu as empresas públicas, lutou contra a extinção da Funasa, se mobilizou por reajustes para a categoria e participou ativamente das lutas da Condsef/Fenadsef e da CUT, entre inúmeras ações que marcaram a gestão que chega ao fim neste 31 de dezembro.
Confira a entrevista:
Você foi a primeira servidora à frente do Sindiserf/RS. No começo da gestão, você afirmou “me reconheço como resultado da luta dessas mulheres que construíram esse espaço, esse protagonismo e que tiveram esse compromisso”. Hoje, no final do seu mandato, como foi ser a primeira mulher a ocupar este espaço?
Foi um grande desafio estar à frente do Sindicato com uma mulher, porque ainda há muito que avançar no sentido de compreender que é necessário criar condições para que mais mulheres possam exercer funções de comando de direção política e que elas possuem legitimidade histórica para tanto. Foi difícil ter que enfrentar resquícios de uma cultura machista e patriarcal que estrutura as relações sociais na sociedade e que também, em grande medida, ainda estrutura as relações sindicais, que tem que ser superada e que leva, muitas vezes, às violências políticas contra mulheres, simplesmente por serem mulheres ocupando espaços de comando. Então, foi um desafio porque foi necessário o tempo todo reafirmar essa legitimidade enquanto mulher, de estar à frente da condição do Sindicato. E também foi um desafio ter que fazer lutas contra o assédio moral e sexual que existe no mundo do trabalho e reafirmar que o Sindiserf, a luta sindical, precisa ser um espaço com tolerância zero para assédios e discriminações, que a cultura política que muitas vezes normalizou constrangimentos e assédios contra as mulheres, inclusive no mundo sindical, precisa ser superada. Mas, felizmente, muitas mulheres da direção e da base estiveram juntas na defesa de práticas que superem o machismo e os assédios.
Seu mandato iniciou em meio a pandemia de covid-19, enfrentou a luta contra a PEC 32, a falta de diálogo com o governo Bolsonaro, a retomada das negociações com o governo Lula, inúmeras mobilizações por reajustes e valorização dos servidores e empregados públicos… Ainda assim, o Sindicato adquiriu a sede própria, iniciou uma campanha contra os assédios no local de trabalho, realizou o 5º Congresso do Sindiserf/RS e buscou parcerias com diversos estabelecimentos… Diante disso, como você se sente ao olhar para essa trajetória?
Com um sentimento de dever cumprido. E com a certeza de que foi possível por causa das diretoras e diretores que se engajaram para garantir essas conquistas para a categoria e a base do Sindicato que sustentou a luta contra a PEC 32, em defesa dos reajustes e também que apoiou as mudanças administrativas e políticas que foram necessárias. Me parece que uma eleição disputada como foi a nossa, que ocorreu agora, revela uma aprovação, não sem críticas porque tivemos inúmeras críticas durante a campanha e que foram muito salutares, mas revela que tiveram acertos e que a categoria se reconhece na trajetória desta direção que encerra esse mandato. A partir de agora, continuaremos com um Sindicato com todos e todas, independente das opiniões que houve nas eleições. Mas é animador ver que a categoria se reconheceu nos avanços e nas mudanças que buscamos construir. Então, olho com este sentimento de aprovação da categoria e quero reafirmar, não sem críticas, porque críticas são fundamentais para a gente avançar.
Qual foi o maior desafio do Sindiserf/RS nesta gestão?
Foi, ao mesmo tempo, avançar na nossa luta principal em defesa das nossas carreiras, dos nossos salários, da valorização salarial, para que a gente possa cumprir as funções essenciais para a população que precisa dos serviços públicos e para valorizar os servidores e servidoras aposentados que muito dedicaram da sua vida em defesa de políticas e direitos à população. Foi um desafio construir unidade para derrotar a PEC 32, que não é uma reforma, é a destruição do serviço público. Foi um desafio construir unidade para garantir aumentos de salário, que não tínhamos há mais de sete anos, para lutar e para reafirmar que para reconstruir o Brasil é necessário defender o serviço público. E, ao mesmo tempo, foi um desafio conciliar isso com novas práticas administrativas no âmbito do Sindicato, que possam conferir mais transparência, que fortaleçam a relação da entidade com a base, a organização sindical e que demonstrem que o Sindiserf está comprometido com práticas idôneas de construção sindical, de transparência e de ética. E foi muito importante, fico muito feliz, dedico a compra da nossa sede a todos aqueles e aquelas que durante muito tempo sonharam com essa conquista. Foi nessa gestão que a gente conquistou, mas essa jornada não começou nessa gestão. O sonho de ter a sede própria, de ter um espaço que seja do Sindicato e dos seus associados é uma conquista que vem de longe e eu fico muito feliz que tenha sido nessa gestão que a gente conseguiu consolidar esse sonho.
Há algo que você faria diferente?
Eu teria dedicado mais tempo para construir a luta das mulheres e a organização das mulheres no sindicato. Fizemos muito, combatemos assédios no mundo do trabalho. Dissemos que não temos tolerância zero com qualquer tipo de assédio e discriminação, inclusive no âmbito sindical. Mas, muitas vezes, nós mulheres temos que estar o tempo todo reafirmando que a gente pode sim dirigir um sindicato, que a gente pode sim, juntas, construir mudanças significativas. A gente não dedica o tempo suficiente para organizar a luta das mulheres também, que é muito importante. Então, eu teria investido mais tempo nisso. Também, um exemplo, eu ouvi durante a campanha uma crítica de um sócio que disse que considera que não é suficiente o jornal chegar de forma impressa duas vezes ou três vezes por ano, já que uma vez a gente faz online e outra vez, presencial. Porque considera o jornal muito importante. E eu também considero isso e acho que continua sendo o carro-chefe do nosso Sindicato. E foi importante eu me dar conta disso quando ouvi essa crítica de um sócio durante a campanha para a eleição do sindicato. Então, isso é um exemplo daquilo que a gente precisa ouvir da base, estar aberto para construir as mudanças. Também, teria fortalecido ainda mais a luta dos servidores públicos e servidoras aposentados, que são a história do Sindicato e que não são o passado somente, são o presente, porque estão ativos nas lutas. Nós fizemos muitas atividades, mas eu gostaria de ter feito um encontro de mais de um dia com os aposentados e aposentadas para a gente discutir como que a gente garante esses direitos fundamentais deles. E também investiria mais ainda do que se investiu na organização dos empregados e das empregadas públicas, da Ebserh, da Conab e dos colegas que estão chegando agora, do GHC.
Você segue na próxima gestão como secretária de Finanças do Sindicato. Qual a sua expectativa?
Vou ser a primeira mulher secretária de finanças como fui a primeira secretária-geral e que venham muitas outras. Não estarei sozinha, estarei com uma mulher muito experiente e qualificada que é a Maria da Conceição Tonietto. E acho que temos muito desafios, tenho certeza de que precisamos aprimorar as nossas práticas administrativas, os nossos controles, prestação de contas, transparências e encontrar formas de atender ainda melhor os nossos sócios e sócias. Ampliando os convênios que não onerem o Sindicato e buscando criar condições para que possamos fazer a luta, condições materiais mesmo, em defesa das nossas carreiras e dos nossos salários.
Fonte: Sindiserf/RS
Fotos: Acervo Sindiserf/RS