O Brasil e o mundo seguem atrasados na construção e implementação de políticas públicas para a população idosa. Mesmo quando existem, essas ações são pautadas pela medicalização e pelo foco na doença. As conclusões são da especialista Dália Romero, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz.
Em entrevista ao podcast Repórter SUS, ela ressaltou que nem mesmo órgãos globais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) conseguem contornar a falta de inclusão dessa população nas metas de desenvolvimento sustentável, por exemplo.
“A primeira questão que sofremos é a invisibilidade. Somos invisíveis ante às políticas públicas. Somos invisíveis ante às prioridades da sociedade. Geralmente, somos vistos como portadores de doença e não como sujeitos políticos e sociais. Não estamos preocupados apenas com o preconceito, mas com a discriminação, que pode chegar inclusive a se transformar em crime.”
No Brasil, o problema deve se potencializar nos próximos anos com o envelhecimento acelerado na população. Atualmente, a média de idade de brasileiros e brasileiras é de 35 anos. Em 2070, ela deve chegar a 51 anos. Esse processo impõe desafios não só para a saúde pública.
Dália Romero explica que esse movimento tem características específicas no Brasil. “A causa principal do envelhecimento populacional do Brasil não é o aumento da expectativa de vida. Não é que estamos vivendo mais, mas que as gerações jovens não querem ou não podem, não têm oportunidade de ter filhos.”
Segundo ela, esse cenário potencializa o peso da desigualdade estrutural na atenção e nas ações voltadas à população idosa. “Se nós fizemos essa diminuição da fecundidade com desigualdade social enorme, é difícil pensar que teremos um envelhecimento populacional saudável também.”
Na conversa com o podcast, a pesquisadora também fez um alerta sobre a medicalização excessiva, que ignora capacidades e potencialidades de bem-estar para a população idosa. “A maneira de controlar qualquer sentimento de medo e de solidão em nós, pessoas idosas, é através de um medicamento”.
De acordo com Romero, conter esse cenário é um desafio que precisa fazer parte do cotidiano do Sistema Único de Saúde (SUS). “O SUS precisa parar com a medicalização da vida rapidamente, controlar essa epidemia de drogas psiquiátricas e tratar a vida de outra maneira.”
Ela defende que esse processo passa necessariamente pelo fortalecimento das relações sociais e das redes de apoio. Nas palavras de Dália Romero, esse papel não pode ser responsabilidade apenas da família.
“Em nossa nossa Carta Magna está escrito que o cuidado das pessoas idosas é responsabilidade da família, da sociedade e do estado. Temos que ser coerentes. Se não temos a família, é a sociedade e o Estado que devem assumir. Nós estamos muito atrasados quanto aos dispositivos sociais para cuidado.”
Fonte: Brasil de Fato e Repórter SUS
Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil