Cargos de supervisão, de superintendências e de coordenações sempre são importantes nos locais de trabalho e, em órgãos públicos passam a ter ainda mais relevância pela natureza e objetivo de prestar um serviço à sociedade. Uma forma de valorizar e defender o serviço público e, consequentemente, chegar melhor à população é esses cargos serem ocupados por servidores públicos de carreira.
No Rio Grande do Sul há seis servidores públicos sindicalizados no Sindicato dos Servidores Públicos Federais do RS (Sindiserf/RS) que estão ocupando a superintendência e coordenadorias dos órgãos onde atuam. Em entrevista ao Sindicato, todas e todos ressaltaram que o fato de serem servidores fortalece o próprio órgão e qualifica o serviço prestado. A importância dos sindicatos na luta em defesa do serviço público e da valorização das carreiras, também foi pontuada pelos superintendentes e coordenadores sindicalizados.
HUSM tem servidor há mais tempo na superintendência e no Ibama, servidora é interina
O médico Humberto Palma ingressou na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) em 2014 e desde 21 de dezembro de 2021 ocupa a Superintendência do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), referência na região central do estado. Ele afirma que independente da forma de ingresso ou contratação, todos são trabalhadores. “Para mim, não tem diferença se a pessoa é RJU ou CLT, são todos colegas e estamos trabalhando no mesmo local. Ter um servidor na superintendência sinaliza que todos podem e devem fazer o melhor pelo hospital”, defende.
Ele afirma também que “os sindicatos são o porto seguro dos trabalhadores” e que todos deveriam ser sindicalizados, pois isso fortaleceria os trabalhadores e as empresas que atuam, seja no âmbito público ou privado. Por outro lado, as entidades sindicais devem se aproximar das bases. “As entidades sindicais estão atravessando um momento de adaptação, pós pandemia, com o advento da covid e do home office. Para isso, é necessário criatividade e principalmente, se aproximar da base, dos trabalhadores. Não há nada que substitua o corpo a corpo e isso mudaria até mesmo a propaganda negativa que fazem contra os sindicatos”, afirma Humberto.
Com 27 anos no serviço público, a servidora Diara Sartori está ocupando a Superintendência interina do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Aprovada em um concurso público realizado pelo MEC, foi nomeada pelo Ibama, que na época não realizava concursos públicos. “Assumi a superintendência a convite do presidente interino e com o compromisso junto aos meus pares em construir uma gestão participativa e dialógica. Em pouco tempo criamos o Conselho Gestor e promovemos o 1º Encontro de Gestão do Ibama/RS, contando com a participação das Unidades Técnicas do estado”, conta Diara que defende também que sua experiência no órgão faz toda a diferença.
A servidora compartilha que acredita na organização social e no movimento social como mecanismos de transformação e melhoria das condições de trabalhos. “Todas as conquistas trabalhistas passam pelos movimentos sindicais e pelo exercício da cidadania. Não há outro caminho de transformação social. É preciso lutar coletivamente, se instrumentalizar para uma participação qualificada, representativa e legítima nas mesas de negociação.”
Incra prioriza servidores e Conab tem primeira mulher no cargo
Já o servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Vitor Py Machado já havia ocupado o cargo de Superintendente Substituto durante o governo de Dilma Rousseff (PT). “Sai no início do governo Bolsonaro e retornei em 20 de janeiro desse ano”, conta ele que está no serviço público desde setembro de 2005.
De acordo com Vitor, é prática no Instituto que esses cargos fiquem com os servidores da casa, justamente por saberem dos trâmites e problemas do órgão. “É da essência do serviço público, uma boa parte das chefias serem ocupadas por servidores de carreira, pois é uma continuidade do serviço. Aqui no Incra, sempre se teve uma boa percepção disso, quando se tem superintendentes de fora, os cargos de chefia, coordenação e superintendentes substitutos ficam com servidores da casa.”
Ele chama atenção para a importância do movimento sindical para o serviço público, como ferramenta de luta por melhores condições de trabalho, salariais e por valorização das carreiras. “Certamente, sem o movimento sindical, os serviços públicos já teriam sido transformados numa mera terceirização de serviços, no sentido de serem coordenados por agências com pouquíssimos funcionários coordenando ações de remunerados por pessoas contratadas via CLT que teriam infelizmente, toda a coerção da questão de demissão e pressão por cumprir tarefas públicas”, afirma.
“Assumir a superintendência está sendo uma experiência muito boa”, garante a superintendente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Luzia Rosalina Teixeira, há 17 anos no serviço público. “A missão da Conab, de apoiar os agricultores prover o abastecimento alimentar é muito nobre, então é muito gratificante fazer parte do processo. Além disso, o fato de ser a primeira mulher no Rio Grande do Sul a ocupar o cargo reafirma a capacidade das mulheres de assumir postos com competência”, diz ao contar que os demais superintendentes também eram de carreira, mas todos homens.
A servidora entende o movimento sindical como fundamental para a sociedade e principalmente para os trabalhadores. “Tenho claro a fragilidade da nossa condição de empregados. Sei que somente com união e luta, conseguiremos manter nossos direitos.”
Gestão otimizada no Mapa e uma mulher indígena à frente da Funai
Nomeado no final de abril deste ano como superintendente do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), José Cleber Dias de Souza ingressou no serviço público em 1997, teve algumas saídas e retornou em 2008. Para ele, um servidor de carreira na superintendência otimiza melhor a gestão do órgão. “Não tem como ocorre quando alguém vem de fora, todo um período de aprendizagem, pois neste caso não se faz necessário. Além disso, a uma tendência dos servidores se sentirem representados e contribuírem de maneira mais efetiva para as ações do órgão.”
José Cleber ressalta que as entidades sindicais dos servidores tem uma dimensão, um conhecimento melhor do papel da função, da contribuição do serviço público do que boa parte da sociedade, exatamente porque o vivencia e o conhece o papel. “Recentemente, encerramos um ciclo de governos que atacaram muito fortemente o serviço e os servidores públicos, os governos Temer e Bolsonaro e a tentativa mais evidente foi a malfadada PEC 32. A resistência a esses ataques se deveu em grande parte, evidente que não só, mas em grande parte à organização sindical.”
Portanto, para ele, a manutenção do serviço público com as suas prerrogativas tem uma contribuição muito grande da organização sindical. “E também tem uma dimensão, uma nitidez maior do papel que o estado deve desempenhar, especialmente em países com histórico de desigualdade social como o Brasil, através de políticas públicas, de ações e de serviços que devem ser devolvidas a sociedade”, garante José Cleber.
Aposentada desde 2019, a coordenadora regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Maria Inês de Freitas, atuou 33 anos como servidora da Fundação e acredita que o principal desafio em assumir a superintendência são os conflitos gerados pela disputa de poder em função dos benefícios trazidos para algumas famílias em decorrência dos arrendamentos. “O fato de ter anos de experiência, conhecer o órgão e por ser indígena, me legitima”, afirma ela que é a primeira mulher e indígena a ocupar o cargo e garante que irá trabalhar para melhorar e defender a categoria e a carreira de indigenista, que é muito importante para os povos indígenas.
A servidora afirma que para que uma categoria avance, tem que ter um sindicato que a defenda, que propõe e que mobiliza. “A mobilização sindical é fundamental para visibilidade da categoria de forma bem incisiva como política pública. É importante que o sindicato busque com a gente a promoção da justiça social.”
Confira abaixo a íntegra das entrevistas:
Superintendente Interina do Ibama: Diara Sartori
Superintendente do HUSM: Humberto Palma
Superintendente do Mapa: José Cleber Dias de Souza
Superintendente da Conab: Luzia Rosalina Teixeira
Coordenadora Regional da Funai: Maria Inês de Freitas
Superintendente Substituto do Incra: Vitor Py Machado
Fonte: Sindiserf/RS
Foto: Reprodução